"Cercle Interieur", de Luís Tinoco, estreia no sábado
A estreia mundial da peça, uma encomenda da Radio France, surge no âmbito de um ciclo dedicado ao compositor Iannis Xenakis, nascido há 90 anos na Grécia e que se naturalizou francês em 1947.
Em declarações à Lusa, Luís Tinoco afirmou que esta encomenda "foi um desafio muito interessante na medida em que pôs em causa" tudo o que aprendeu e regularmente faz.
"Esta peça que tem uma duração de dez minutos obrigou-me a escrever sem seguir os livros de orquestração e a cartilha de escrita para orquestra até porque a orquestra não se dispõe de forma tradicional", disse.
O convite que surgiu de forma casual, quando uma responsável da Radio France assistiu a um concerto que incluiu uma peça de Tinoco no Centro Cultural de Belém, exigia que a composição a criar respeitasse a especialização que Xenakis determinou para a sua peça "Terretektohr", que será também tocada no sábado.
"Terretektohr", composta em 1966, determina a colocação dos músicos em círculos na plateia da sala, sendo que essa distribuição espacial não respeita os naipes de instrumentos. Um trombonista pode ficar ao lado de um violetista e de um clarinetista, e todos eles sentados ao lado de espetadores.
Referindo-se à obra de Xenakis, Luís Tinoco afirmou que "é uma obra histórica que pertence ao período em que vários compositores fizeram experiências com a espacialização da orquestra", tendo sublinhado à Lusa a integração no programa do concerto da peça "Lontano", de György Ligeti que é "uma obra central da segunda metade do século XX".
O programa completo de sábado inclui uma outra estreia mundial, a da peça "L'Amphithéâtre", de Michael Levinas.
A peça "Cercle Interieur" foi composta "de raiz para ser tocada exclusivamente no contexto do convite", disse o compositor português referindo que "foi necessário fazer partituras para cada um dos instrumentistas".
A "peça foi escrita com uma planta da sala parisiense, tendo sido necessários escrever cada compasso 85 vezes, tantos quantos os músicos que compõem a orquestra, pois não estando agrupados por famílias de instrumentos, não se podia escrever uma linha melódica, como acontece habitualmente, que é seguida por cada grupo de instrumentos".
Luís Tinoco afirmou que "o título ["Cercle Interieur"] explica a composição": "Primeiro pela disposição geométrica dos músicos no espaço, em círculo, depois porque o público, como está sentado ao lado dos músicos é como se estivesse dentro do um círculo que é o interior da orquestra".
Finalmente, "na orquestração há uma chamada de atenção para o círculo central dos músicos que são os que estão mais próximos do maestro e que funcionam como elemento musical principal", explicou.
A composição de Tinoco "não é possível ser ouvida em estéreo, pois são ondas que passam pelo público e vive muito da forma como irradia dos músicos do círculo central para o outro e destes para o público".
"A audição da peça depende do lugar em que a pessoa ficar, e será sempre diferente de lugar para lugar", rematou.